Na época da Idade Média, os cristãos deveriam obedecer os dias de jejum, excluindo de sua dieta alimentar as carnes “quentes”. O bacalhau era uma comida “fria” e seu consumo era incentivado pelos comerciantes nos dias de jejum. Com isso, passou a ter forte identificação com a religiosidade e a cultura do povo português.


 

O rigoroso calendário de jejum foi aos poucos sendo desfeito, mas a tradição do bacalhau se mantém forte nos países de língua portuguesa até os dias de hoje, principalmente na Páscoa, uma data expressiva da cristandade, quando se celebra a Ressurreição de Cristo.


A cultura do bacalhau é milenar. Existem registros no Século IX do processamento do bacalhau na Islândia e na Noruega no Século IX. Os vikings, aqueles navegadores guerreiros e conquistadores, são considerados os pioneiros na pesca da espécie “cod gadus morhua” e na adoção do processo de secagem do peixe ao ar livre. Lembrem-se, a temperatura média anual é baixa e os ventos são fortes na região Escandinava. Na secavam o peixe perdia até a quinta parte de seu peso e, assim, eram conservados para ser consumido aos pedaços nas longas viagens que faziam pelos oceanos.


A história do bacalhau aponta para o pioneirismo dos escandinavos, porém o reconhecido chef de cuisine francês Auguste Escoffier decretou: “devemos aos portugueses o reconhecimento por terem sido os primeiros a introduzir, na alimentação, este peixe precioso, universalmente conhecido e apreciado”.


Os portugueses realmente disseminaram a culinária do bacalhau desde o século XV, quando na corrida das descobertas, através das grandes navegações gerou a necessidade de produtos alimentares para suportar as longas travessias marítimas.


O bacalhau foi uma revolução na alimentação, porque na época os alimentos estragavam pela precária conservação e tinham sua comercialização limitada, observem que a geladeira surgiu no século XX. O método de salgar e secar o alimento, além de garantir a sua perfeita conservação mantinha todos os nutrientes e apurava o paladar. A carne do bacalhau ainda facilitava a sua conservação salgada e seca, devido ao baixíssimo teor de gordura e à alta concentração de proteínas.


Os portugueses desembarcaram o hábito de comer bacalhau no Brasil já na época do descobrimento. Mas com a chegada da corte portuguesa, no início do século XIX, ocorreu uma difusão natural. Em 1843, a Noruega oficialmente exportou a primeira carga de bacalhau para o Brasil.


Os intelectuais da época, liderados por Machado de Assis, sempre aos domingos, reuniam-se em restaurantes do centro do Rio de Janeiro para degustar um autêntico “Bacalhau do Porto” e discutir os problemas brasileiros. Ainda hoje são muitos os restaurantes especializados em preparar e servir um autentico bacalhau, marca da união do homem à mesa em torno de longas conversas.


Na Páscoa a renovação da vida, no bacalhau o estímulo à celebração através dos seus sabores. Experimente os deliciosos pratos feitos com esta tradicional iguaria aqui na Vila don Patto.

 

Fonte: www.opovo.com.br/